DILMA SACUDIU AS CONSCIÊNCIAS
![]() |
Presidenta Dilma chegou ao Senado acompanhada de Chico Buarque |
Por Teresa Cruvinel, para o Brasil 247
É possível que Dilma não tenha
virado votos com seu comparecimento ao Senado mas é certo que mexeu com algumas
consciências no plenário e com a vastidão do imaginário popular em relação ao
processo. O discurso, a firmeza, a disposição para o debate, o
preparo intelectual, tudo somou para fazer de sua apresentação um ato de
estadista, ainda que seja o último como presidente da República. A inarredável
caracterização do impeachment como golpe parlamentar, sintonizado com a nova
realidade da América Latina, que não comporta mais as velhas quarteladas, pode
não ter mudado a correlação de forças, mas semeou desconforto entre seus
algozes. Eles sabem que, mesmo ganhando a guerra para tirá-la do cargo,
perderam a disputa pela narrativa desta tragédia grega. Se algum dos
institutos de pesquisa se dispuserem a perguntar ao povo como vêm o processo, é
quase certo que a maioria apontará o impeachment como um golpe aplicado pelos
adversários de Dilma, de Lula e do PT. O que ela deixou em seus
algozes foi a certeza de que carregarão a marca do que farão. Dilma falou para
a História.
Nesta terça-feira, 30/8, começam as
horas finais. Prevalecendo o golpe, Temer fará imediatamente um pronunciamento
pela TV, apresentando-se como presidente efetivo. E pode ouvir o primeiro
panelaço contra seu governo, como já ensaiam fazer alguns movimentos. A
pergunta é que vem depois é: o Brasil resistirá à ferida em sua jovem
democracia e ao governo que Temer oferece aos brasileiros, com sua agenda de
retrocesso e seu baixíssimo capital político? Ou começará o golpe dentro do
golpe, ensaiado pelos tucanos e por setores do mercado?
Chico Buarque de Hollanda também
poderia dizer como Dilma. “Eu sou o mesmo que resisti à ditadura com minhas
canções e minhas atitudes”. Chico nunca faltou aos encontros com a
democracia brasileira. Sua presença no Senado para acompanhar, ao lado de Lula,
a auto-defesa de Dilma Rousseff, foi mais um elemento de caracterização do
golpe como golpe. E embora ninguém tenha passado recibo, incomodou a maioria
que conduz o trator. Sua presença resume o paradoxo dos golpistas. Eles
se apresentam como defensores da moralidade, da ética e do republicanismo mas
os que, historicamente, têm compromisso com estes valores, e
representam a inteligência e a sensibilidade do Brasil, estão contra eles.
Comentários
Postar um comentário