"Pernambuco, meu País"! Qual a origem do orgulho de ser pernambucano? Você sabe?

Camisetas com a frase "Pernambuco, meu País" são comercializadas ressaltando o orgulho de ser Pernambucano (Foto: Recife Ordinário)

OPINIÃO

Que o pernambucano é o povo mais bairrista "em linha reta" do mundo ninguém duvida. O orgulho de ser pernambucano é expressado com frases do tipo "Pernambuco, meu País", onde tudo é mais e melhor "em linha reta" do que em qualquer outro lugar do planeta. Pernambucanos se orgulham da Revolução Pernambucana, quando se fundou a Nação Pernambuco, de Olinda, Patrimônio da Humanidade, do bolo de rolo, da Av. Caxangá, a maior em linha reta, da Batalha dos Guararapes, onde a Pátria nasceu, da Rua do Bom Jesus, a terceira mais bonita do mundo e, de sua bandeira e de seu hino, os mais bonitos do planeta e, é claro, da paradisíaca Fernando de Noronha, entre outras preciosidades.

É desconhecer a história e o espírito do povo pernambucano, portanto, tentar tirar de Pernambuco qualquer de seus orgulhos e esperar não receber reação adversa.

Por Noelia Brito*

Que o pernambucano é o povo mais bairrista "em linha reta" do mundo ninguém duvida. O orgulho de ser pernambucano é expressado com frases do tipo "Pernambuco, meu País", onde tudo é mais e melhor "em linha reta" do que em qualquer outro lugar do planeta.

Mas o que pouca gente sabe é a origem dessas expressões tão pernambucanas. Pois bem, um dos orgulhos do povo pernambucano é sua história de levantes e revoluções, a exemplo de sua participação central na Revolução Pernambucana, de 1817 e na Confederação do Equador, de 1824.

Em 6 de março de 1817, 70 anos antes da independência do Brasil, Pernambuco virou uma república independente do Reino Unido do Brasil e de Portugal. A República de Pernambuco era formada pelo território do que hoje se conhece como Pernambuco, além dos Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas além de parte da Bahia, que, à época, estavam incorporados à Capitania de Pernambuco. Ali nascia a Nação Pernambuco, que durou por 75 dias, até ser derrotada pela Coroa Portuguesa.

A Revolução Pernambucana, que tinha caráter separatista, a exemplo da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana, foi o único movimento dessa natureza que conseguiu ultrapassar a fase conspiratória e, de fato, instalar um governo provisório, ainda que por apenas 75 dias.

Com a presença da família real portuguesa no Brasil, aumentaram-se os impostos para bancar os luxos da realeza, fato que agravou a crise social e econômica na Região Nordeste, ocasionada pela desvalorização do açúcar no mercado europeu, com a concorrência do açúcar produzido nas Antilhas, para onde os holandeses levaram os conhecimentos sobre plantio e colheita da cana, adquiridos durante o período de ocupação,  especialmente em Pernambuco. Os pernambucanos também se orgulham de sua participação na expulsão dos holandeses do Brasil e celebram o confronto, que ficou conhecido como a Batalha dos Guararapes, durante a Insurreição Pernambucana, conflito marcado pela insatisfação dos grandes proprietários de terras com os colonizadores holandeses. Porém, historiadores apontam para o pagamento de indenização equivalente a 63 toneladas de ouro, por Portugal, para que a Holanda deixasse o Nordeste, em definitivo, lá pelos idos de 1654. 

Por seu espírito revolucionário, Pernambuco foi sendo punido a cada levante. 

Depois da Revolução Pernambucana, o Estado perdeu o território hoje conhecido como Estado de Alagoas. Passada a Confederação do Equador, o Estado foi punido com a perda do território que hoje compõe o Oeste Baiano.

A História, portanto, é povoada de fatos marcantes que, ao longo do tempo, foram fomentando o ideário que está por trás do decantado orgulho de ser pernambucano.

Bandeira de Pernambuco (Foto: Depositphotos)

Não à toa, a bandeira de Pernambuco, belíssima, por sinal, é a única, dentre as de todos os Estados brasileiros que é vista flamulando pelo mundo a fora, além de estampar camisetas e souvenirs de todo tipo. O pernambucano se orgulha do seu hino, gravado e regravado em todos os ritmos por artistas que vão de Alceu Valença a Dominguinhos e que proclama o Pernambuco imortal! "Coração do Brasil em teu seio corre o sangue de heróis, rubro veio que há de sempre o valor traduzir, és a fonte da vida e da história desse povo coberto de glória, o primeiro, talvez, do porvir", cantam os pernambucanos orgulhosos, para em seguidas bradar: 

"Salve, ó terra dos altos coqueiros
De belezas soberbo estendal
Nova Roma de bravos guerreiros
Pernambuco imortal, imortal!"

Ouça o Hino de Pernambuco em ritmo de forró com Dominguinhos:


Vista do Sítio Histórico de Olinda, a segunda cidade brasileira a ser declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco, em 1982, após Ouro Preto, em MG (Foto: Noelia Brito)


"A República é filha de Olinda", diz ainda o Hino de Pernambuco. Ao adentrar na cidade de Jaboatão dos Guararapes, o visitante será recebido com a frase "A pátria nasceu aqui", numa alusão ao fato do Município ter sido palco da Batalha dos Guararapes, travada entre portugueses e holandeses, nos Montes que deram nome à Batalha e à cidade.

Rua do Bom Jesus, no Bairro do Recife, foi eleita a terceira rua mais bonita do mundo (Foto: Noelia Brito)

Foi a revista americana Architectual Digest quem elegeu a Rua do Bom Jesus, antiga Rua dos Judeus, onde está situada a primeira sinagoga construída nas Américas, a Kahal Zur Israel, como a terceira mais bonita do mundo, ficando atrás, apenas, da Setenil de Las Bodegas, na Espanha, e da Washington Street, em Nova York (EUA), numa lista com as 46 ruas consideradas as mais bonitas do mundo. A Rua do Bom Jesus fica no Bairro do Recife, na Capital pernambucana e é outro motivo de orgulho para os pernambucanos.

Tudo em Pernambuco é maior e melhor em linha reta do mundo. A expressão pode parecer sem sentido para quem não é de Pernambuco, que se orgulha de ter o melhor bolo de rolo em linha reta do mundo, dentre outros prodígios pernambucanos. Mas quando se sabe que a expressão surgiu em razão de Recife ter, aquela que, por muitos anos, foi a mais longa avenida em linha reta do Brasil, a Av. Caxangá, com 6,2 km de extensão, as razões ganham luz. 

A Caxangá perdeu o posto para a Av. Teotônio Segurado, situada em Palmas, no Tocantins, que possui um trecho de 10,2 km em linha reta num total de 19,7 km de extensão, mas os pernambucanos não se dão tão facilmente por vencidos, sustentam que a Avenida continua sendo a mais longa via cuja extensão total se desenvolve numa linha reta, tanto horizontal quanto vertical, ficando seus extremos dentro de uma mesma linha de visão, portanto, no "meu país, Pernambuco" continuamos tendo a maior avenida em linha reta do Brasil, dentre outras grandezas.

É desconhecer a história e o espírito do povo pernambucano tentar tirar de Pernambuco qualquer de seus orgulhos e esperar não receber reação adversa.

Fernando de Noronha (Foto: Agência Brasil)

Foi assim com o recente episódio da ação em que o governo Bolsonaro, inspirado por motivos eleitoreiros de seus representantes em Pernambuco, ajuizou uma ação, no STF, para que seja declarado "que o domínio sobre o Arquipélago de Fernando de Noronha é de titularidade total da União". Por mais que se saiba que a gestão do Governo de Pernambuco deixa a desejar e que a Ilha hoje é um paraíso usufruído por apenas uma elite que pode bancar o alto custo de visitar Noronha e desfrutar seus encantos naturais, para os pernambucanos a tentativa do Governo Federal de ser dono desse patrimônio que a Constituição Federal delegou a Pernambuco, onde o atual presidente tem rejeição recorde, relembra os tempos em que o Estado, por seu caráter revolucionário, teve parte de seu território subtraído, como punição.

Depois da repercussão negativa, vieram a AGU e os pré-candidatos de Bolsonaro em Pernambuco, a público, afirmar que o Governo de Pernambuco espalhava "fake news" e que não querem tomar Noronha de Pernambuco. Porém, na ação, é a AGU quem afirma que o principal ponto discutido é a titularidade do domínio sobre a Ilha. É a AGU quem coloca que "a dissidência acerca de qual dos entes federativos detém a titularidade do Arquipélago de Fernando de Noronha tem implicado na utilização e disposição irregulares de terras públicas federais pelo Estado, o que resulta, por exemplo, em evidentes danos ao meio ambiente, em desrespeito às políticas e legislação de acesso à terra pela população nativa e de baixa renda, em exploração econômica de terrenos da União sem licitação e contraprestação financeira."

Portanto, é o governo Bolsonaro, por intermédio da AGU, quem diz que quer a declaração de que é o dono de Noronha para obrigar o Governo de Pernambuco a cumprir com seus deveres relativos à Ilha. Mas como acreditar na sinceridade de um governo em preservar Noronha quando esse mesmo governo exonerou e transferiu delegados da Polícia Federal por combaterem desmatamento na Amazônia, causado por madeireiros defendidos por um ministro do governo.

Como acreditar que essa ação tem por intuito, de fato, preservar o Arquipélago de Fernando de Noronha da degradação causada por construções indevidamente licenciadas e licitações para exploração, sem contrapartida, se foi movida por um governo que enviou ao Congresso um projeto prevendo a autorização para garimpos em terras indígenas?

Se por um lado não se pode compactuar com o uso eleitoreiro por parte dos candidatos de Bolsonaro, em Pernambuco, das questões ambientais atinentes a Fernando de Noronha, por outro, não se pode fazer vista grossa às acusações lançadas contra o governo de Pernambuco sobre licenciamentos ilegais e licitações para exploração do patrimônio público, sem as devidas contrapartidas, supostamente para apadrinhados, feitas pela AGU. Cabe ao governo de Pernambuco responder a essas acusações trazendo luz ao debate.

Noronha pertence ao "meu País, Pernambuco" e ninguém tasca e por pertencer a Pernambuco, cabe ao governo do Estado cumprir com suas obrigações e dar satisfação a seu povo sobre as acusações que lhe são feitas pela Advocacia Geral da União e ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas, investigar tais acusações.

* Noelia Brito é Editora do Blog da Noelia Brito, associada à AIP (Associação da Imprensa de Pernambuco) e Procuradora Judicial do Município do Recife

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