Soledad - A terra é fogo sob nossos pés abre temporada no Recife
Uma coisa aprendi junto a
Soledad: que deve-se empunhar o pranto, deixá-lo cantar. Outra coisa aprendi
com Soledad: que a pátria não é um só lugar. Uma terceira coisa nos ensinou:
que o que um não consiga, o farão dois *
Depois de 42 anos da morte da militante de esquerda, Soledad
Barrett Viedma, a história da sua vida e luta política será encenada nos palcos
do teatro recifense, terra onde a guerrilheira paraguaia viveu os últimos dias
de sua vida e foi assassinada. O espetáculo ‘Soledad - A terra é fogo sob
nossos pés’ estreia no dia 03 de setembro, às
20h, no teatro Hermilo Borba Filho, e segue temporada até o dia 20 do mesmo mês, de quinta a sábado,
às 20h, e aos domingos, às 19h. Ele conta a trajetória de vida de Soledad
Barrett por meio de um monólogo poético, que também faz referências ao período
atual da política brasileira.
Poemas, músicas, elementos sonoros e símbolos amenizam o
peso da história. Os ingressos serão
vendidos ao preço de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
A peça, do grupo Cria do Palco, será
encenada pela atriz pernambucana e idealizadora do
espetáculo, Hilda Torres, e terá direção da atriz e diretora paulista, Malú
Bazan. As duas também são responsáveis pelo texto do monólogo. A produção
executiva é de Karuna de Paula. A artista plástica Ñasaindy de
Araújo Barrett, filha de Soledad, assina algumas músicas e a identidade visual
do projeto.
O espetáculo
estabelece um diálogo intenso com a música. Lucas Notaro assina a direção
musical. Assim também é com a luz criada por Eron Villar, ator, diretor e
iluminador. A coordenação de produção fica por conta de Márcio Santos
jornalista e músico e a produção executiva é de Karuna de Paula, em uma
realização da “Cria do Palco”.
“Falar
sobre Soledad é traçar um caminho de poesia onde a dor e a alegria estão
juntas, seguindo em marcha para erguer os ideais libertadores. Falar sobre
‘Sol’ é falar de um pedaço de todos nós que nos impulsiona diariamente a
enfrentar, resistir, sem nunca abrir mão do brilho nos olhos ao imaginar um
mundo melhor com direitos iguais para todos e todas na compreensão das nossas
diferenças”, comentou Hilda Torres.
A
montagem sobre a vida de Soledad nasceu de uma pesquisa intensa que teve início
depois que Hilda ganhou de um amigo o livro ‘Soledad no Recife’, de Urariano
Mota, no ano de 2014. A partir de então teve início uma série de entrevistas e
pesquisa documental sobre a vida da guerrilheira paraguaia. Entrevistas com ex-presos
políticos, parentes de pessoas desaparecidas durante a ditadura brasileira, militantes
que tiveram, ou não, contato com Soledad. Pesquisa em documentos da época e no
relatório final da Comissão da Verdade.
Malú
Bázan, nascida na Argentina e integrante do grupo Tapa de teatro desde 2000, ingressou
no projeto depois de vir morar em Recife para fazer um intercâmbio
artístico-cultural atrás de trocas de experiências. “Assisti Hilda em uma peça
encenada em sua própria casa. Incômodos, de Cícero Belmar. Ela me falou sobre o
projeto Soledad. A partir desse encontro iniciamos uma trajetória em parceria
para a criação dessa história”, destacou.
Um outro importante
encontro foi com Ñasaindy Barrett. Depois de alguns
contatos, a filha de Soledad, que reside em São Paulo, visitou o Recife e
gravou poemas e músicas que integrarão a trilha sonora do espetáculo.
O projeto Soledad Barrett Viedma no
Teatro está sendo executado sem o apoio de fundos de cultura. Mas diante da
força da história de Soledad e da importância que ela tem para os dias atuais,
quando parte do Brasil clama pelo retorno a ditadura, os envolvidos no projeto
decidiram lançar uma campanha de arrecadação. Por acreditar que um processo colaborativo fortalece
iniciativas de produção e realização de trabalhos artísticos, os produtores
estão pedindo o apoio da sociedade para levar a peça ao teatro.
Quem desejar conhecer mais detalhes sobre o projeto pode
acessar a página do Facebook: https://www.facebook.com/pages/Soledad-Barrett-Viedma-no-teatro/397217087129931?fref=ts. As doações estão sendo feitas pela Caixa
Econômica Federal. Agência: 1030, conta: 22.837-9, operação: 013.
A MILITANTE
Soledad Barret foi militante da
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Nascida no Paraguai, ela era de uma
família culta e politizada. Era neta do renomado escritor, jornalista,
intelectual e líder anarquista, nascido na Espanha, Rafael Barrett, que foi
morar no Paraguai e deixou uma marca nas lutas sociais de uma época.
Por causa do ativismo político
de sua família, que os obrigava ao exílio constante, Soledad também viveu na
Argentina e Uruguai, além de Cuba e Brasil. Aos 17 anos, foi sequestrada, em
Montevidéu, por um grupo de
neonazistas que exigiram que ela dissesse a frase ‘viva Hitler’. Diante da
negativa, marcaram suas coxas com suásticas nazistas. A partir daí, ela decidiu
ingressar de vez na luta política.
Foi estudar na União Soviética,
onde ficou por um ano, pelo Partido Comunista. Na despedida do Uruguai,
Soledad, que era conhecida por levantar a bandeira entre as nações de que “A
Pátria não é um só lugar", disse a um amigo: "La tierra es fuego bajo
nuestros piés", frase do subtítulo da peça a ser encenada no Recife.
Retornando a América Latina ela se estabeleceu por um período na Argentina e
integrou um movimento que tinha como plano invadir o Paraguai. O plano não deu
certo e logo Soledad seguiu para Cuba, onde treinou a luta armada.
Em Cuba, ela conheceu o
brasileiro José Maria Ferreira de Araújo, militante da VPR exilado na ilha, que
viria a ser o pai de Ñasaindy de Araújo Barrett. José Maria retornou ao Brasil
e Soledad acabou por vir um ano mais tarde. Pouco depois de chegar, soube que
ele tinha sido capturado e morto. Soledad encontrou em sua morte mais uma razão
para continuar a luta contra as ditaduras que dominavam os países
latino-americanos.
No Brasil, ela conhece o cabo Anselmo,
que era amigo e companheiro de José Maria na VPR. Ao longo do tempo, as suas
vidas se aproximando e ele acaba se tornando o novo companheiro de Soledad.
Cabo Anselmo é apontado como um dos líderes do protesto dos marinheiros em
1964. Integrou o movimento de resistência à ditadura nos anos 1960 e, na década
de 1970, atuou como colaborador do regime militar. Mas, na verdade, ele era um
agente policial infiltrado.
Foi Anselmo quem entregou o esconderijo
dos membros do VPR em Pernambuco, uma chácara no loteamento São Bento, no
município de Paulista. Junto com outros companheiros, Eudaldo Gomes da Silva,
Pauline Reichstul, Evaldo Luís Ferreira de Souza, Jarbas Pereira Marques e José
Manoel da Silva, estava Soledad. Detalhe, em diversos depoimentos de conhecidos
de Soledad afirma-se que ela estava grávida, esperando um filho do próprio cabo
Anselmo.
Segundo a versão oficial, os
militantes foram mortos numa troca de tiros na chácara. O jornalista Elio
Gaspari, em “A ditadura escancarada”, classifica o episódio como “uma das
maiores e mais cruéis chacinas da ditadura”.
A ATRIZ
Hilda Torres
é atriz, psicóloga, arte educadora e produtora cultural. Dirigiu e atuou no
teatro em parceria com outros diretores e atores em peças como ‘(In)cômodos’ (texto
de Cícero Belmar); ‘Autônomas’ (Livre adaptação do texto ‘A Mulher
Independente’, de Simone de Beauvoir, e do texto ‘Da Paz’, de Marcelino Freire);
e A Árvore de Jô. Atuou como atriz na peça ‘Essa febre que não
passa’ (texto de Luce Pereira).
Aventurou-se na dramaturgia com a peça ‘Só Quando eu
Crescer’, atuando também como diretora e atriz.
Também dirige e escreve os textos do grupo de teatro Baú, que tem
realizado a apresentação de trabalhos voltados para o público infantil e adulto
nas praças dos municípios do Sertão pernambucano e em comunidades do Rio de
Janeiro.
Em cinema
atuo em ‘A Felicidade não é deste Mundo’, de Sephora Silva, ‘Ursos Camaradas’
de Fernando Spencer, entre outros. Na TV, fez ‘A Pedra do Reino’, de Ariano
Suassuna.
Vem há um
ano pesquisando e trabalhando histórias e/ou pensamentos
sócio-político-culturais de mulheres que marcaram uma época (e marcam) com suas
obras, suas vidas e que trazem temas/reflexões/críticas/constatações que
provocam diretamente o diálogo no contexto de existir mulher em desafio ao
contexto arcaico/histórico do machismo. Simone de Beauvoir foi o momento de
partida para esse desafio que hoje se concentra na história de Soledad Barret.
A DIRETORA
Malu Bazán é atriz e diretora formada pelo TUCA/PUC de São Paulo em 1996.
Integrante do Grupo TAPA desde
2000, onde atuou em diversos espetáculos entre eles: Amargo Siciliano, de Luigi Pirandello, direção
de Sandra Corveloni; Major Bárbara, de
Bernard Shaw e Camaradagem,
de August Strindberg, ambos dirigidos por Eduardo Tolentino de
Araujo.
Dirigiu em
2012 o espetáculo ‘A Noite das
Tríbades’ que fez parte da Mostra Strindberg do SESC SP e que ficou em cartaz no SESC
Bom Retiro, no Viga Espaço Cênico e no Teatro Eva Herz da Livraria Cultura de
São Paulo. O Espetáculo foi indicado ao Prêmio Arte Qualidade Brasil 2013 nas categorias Melhor Direção - Malú
Bazán, Melhor Espetáculo Drama e Melhor Ator - Norival Rizzo.
Assistente
de direção de vários espetáculos entre eles: ‘Dissecar uma Nevasca’, direção de Bim de Verdier (produção
sueco-brasileira); ‘Strindbergman’, direção
de Marie Dupleix na temporada em São Paulo dentro da programação do Ano da
França no Brasil; ‘Tempo de Comédia’ e ‘Maria que Não Vai com as Outras’,
ambas direções de Eliana Fonseca; ‘O
Tambor e o Anjo’, direção de Paulo Marcos e André Garolli.
Na área de
arte educação, fez parte da banca selecionadora da SP Escola de Teatro em 2012 e 2013 do curso de atuação, foi Artista-Orientadora
do Programa
Vocacional da Secretaria Municipal de Cultura em 2008,
2009 e 2010, arte educadora do Projeto EMIA nos CEUS em
2004 e 2005 e Coordenadora e professora do ‘Projeto Teatro em Alphaville’ no Centro de Estudos Cacilda Becker de 1999 a 2000.
Orientadora
dos Grupos de Estudos do
Grupo TAPA para atores desde 2009, onde desenvolve uma pesquisa corporal
envolvendo artes plásticas, música e teatro.
Desde maio
de 2014 residindo em Recife, é professora e diretora do Centro de Interpretação
Teatral (CIT) do SESC Santo Amaro,
onde acabou de dirigir a peça ‘Nossa Cidade’, de Thortnon Wilder.
* O intertítulo desse
release é um trecho da música Soledad Barret, do cantor, compositor e
instrumentista uruguaio Daniel Viglietti, um dos maiores
exponentes do canto popular do seu País.
Ficha
Técnica Soledad
Atriz e idealizadora: Hilda
Torres
Direção: Malú Bazán
Dramaturgia: Hilda Torres e Malú
Bazán
Pesquisa histórica: Hilda Torres,
Márcio Santos e Malú Bazán
Pesquisa cênica: Hilda Torres e
Malú Bazán
Concepção de Cenário e figurino:
Malú Bázan
Execução de Cenário e figurino:
Felipe Lopes e Maria José Lopes
Luz: Eron Villar
Operação de Luz: Eron Villar e
Gabriel Félix
Direção Musical: Lucas Notaro
Arte visual: Ñasaindy Lua
Produção: Hilda Torres, Márcio
Santos e Malú Bazán
Produção Executiva: Karuna
de Paula
Assessoria de Imprensa: Alexandre
Yuri
Teaser: Ivich Barrett e Rafael
Cabral
Consultoria do Idioma guarani –
Adrián Morínigo Villalba
Serviço:
Soledad - A terra é fogo sob nossos pés
Estreia: 03 de setembro
Hora: 20h
Local: Hermilo Borba Filho
Temporada: Nas quintas, sextas e sábados de setembro, às
20h, e aos domingos, às 19h.
Ingressos: R$ 30 (inteira) – R$ 15 (meia)
Mais Informações:
Assessoria de Imprensa: Alexandre Yuri (081) 99882-5531
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