A autofagia petista é a maior ameaça à reeleição de Dilma
Por Noelia Brito
Muito se
tem questionado o discurso incongruente do ex-governador de Pernambuco, Eduardo
Campos, na qualidade de candidato à presidência da República, pelo PSB,
extremamente dissociado de suas práticas políticas, seja durante seus mais de
sete anos à frente do governo de seu Estado, seja como articulador das
candidaturas de seu Partido, que conduz com mãos de ferro.
Entretanto,
tem chamado atenção, o fato de Eduardo,
em suas críticas ao governo que até bem pouco tempo integrava, não apenas na
base, mas com cargos de relevo, em ministérios e estatais de orçamentos
bilionários, centrar suas críticas, pesadamente, na figura da também candidata,
portanto, sua concorrente direta, a presidenta Dilma Rousseff, poupando e por
que não dizer, até blindando, o maior cabo eleitoral e padrinho político da
presidenta, o ex-presidente Lula, de suas críticas e de qualquer
responsabilidade por tudo que considera negativo do Governo Federal.
A postura
protecionista de Eduardo com a figura de Lula não passou desapercebida quando
foi entrevistado pelo Programa Roda Vida, ocasião em que chegou a ser ironizado
pela colunista Dora Krammer, de “O Globo”, presente na bancada de
entrevistadores.
Em
recente sabatina promovida pela Folha/UOL/SBT, Eduardo também foi questionado
sobre o porquê de sua blindagem a Lula. Em resposta, disse, simplesmente, que
Lula não era candidato, como se Lula não estivesse em plena campanha,
percorrendo o país e declarando que reeleger Dilma e eleger Padilha ao governo
de São Paulo eram questão de vida, para ele, Lula.
Ontem
mesmo, ao declarar apoio à reeleição de Dilma, numa entrevista coletiva em que
também declarou apoio a candidaturas que fazem oposição aos candidatos de Eduardo
Campos, em Pernambuco, a vereadora Marília Arraes, que além de ser do PSB, é
prima do ex-governador, confessou-se incomodada com o fato de Eduardo Campos andar
fazendo ataques que apontou como sem fundamento contra Dilma, quando todos
sabem, segundo a própria Marília, que o governo Dilma é parte do mesmo projeto
que Eduardo diz apoiar desde 1989, ano da primeira candidatura de Lula à
presidência.
Eduardo,
a princípio, integrou-se a um movimento que pretendia usurpar a candidatura de
Dilma à reeleição. Conforme já revelei em outros textos, esse movimento, o
chamado “Volta Lula”, foi capitaneado pelo presidente da Construtora Odebrecht,
que defendia uma chapa com Lula substituindo Dilma e Eduardo Campos na vice.
Eduardo Campos ouviu o canto da sereia e se encantou com ele. Acreditou que
poderia destruir a reputação da presidenta, taxando-a de incompetente, já que
de desonesta ninguém poderia ou poderá ousar chamá-la e o fez com o auxílio
de boa parte do empresariado que, como
Flávio Odebrecht, teve seus interesses contrariados pela tão criticada
intransigência de Dilma com malfeitos e benesses. Contava, ainda, com o
incentivo de alguns petistas de alta patente, incomodados com a diminuição de
seu poderio nos negócios do governo, que acusavam Dilma de “falta de jogo de
cintura e inapetência para o diálogo”, característica que, para o cidadão
comum, poderia ser traduzida, simplesmente, como falta de aptidão para as
safadezas tão vulgarizadas no mundo da política, que não saber praticá-las
passou a ser defeito.
Mas o
fato é que Dilma resistiu. Com todos os ataques, traições e “fogo amigo”, Dilma
resistiu e se firmou como candidata, enquanto Eduardo corre o risco de perder
tudo, inclusive sua hegemonia política em Pernambuco. Entretanto, o “fogo
amigo” que foi lançado contra ela, por personalismo e ganância de alguns de
seus colegas de Partido, pode custar muito caro para o próprio PT. Já ao PMDB,
que também participou das orquestrações e sabotagens contra a candidatura de
Dilma, não custará nada, pois o governismo é da sua natureza, seja quem for o
titular da cadeira presidencial.
Na
pesquisa espontânea, divulgada hoje pela Istoé/Sensus, ou seja, naquela em que
o eleitor tem que lembrar o nome do candidato em quem vai votar, tal qual no
dia da eleição, Dilma foi citada por 21% dos eleitores consultados, uma queda
de 1,5% com relação à pesquisa anterior do mesmo instituto portanto, dentro da
margem de erro. Já o ex-presidente Lula que antes era lembrado por 13,3% dos
eleitores, foi mencionado apenas por 3,5%, confirmando a compreensão do eleitorado
de que Dilma é a candidata e enterrando em definitivo o “Volta Lula”. Já Aécio
caiu de 12,9% para 9,8 e Eduardo Campos, que apresentava 5,1%, caiu na
preferência do eleitorado, sendo citado por apenas por 3,2%.
O dado
que deve soar como alerta para os petistas, porém, principalmente para aqueles
que tentaram sabotar a candidatura do próprio Partido, ao sabotar, juntamente
com Eduardo Campos e boa parte do empresariado, a candidatura de Dilma
Rousseff, é que não apenas na pesquisa Datafolha, mas também na pesquisa
divulgada, hoje, pelo Sensus, num eventual segundo turno, o risco de o PT sair
derrotado, nunca foi tão grande e o que mais impressiona é que seria uma
derrota para o mais fraco dos candidatos que os tucanos já apresentaram em toda
a sua história. Em ambas as pesquisas, há empate técnico entre Dilma e Aécio na
eventualidade de um segundo turno.
Os casos
de auto-sabotagem do PT não são novidade quando se trata de eleições municipais
e estaduais, entretanto, a autofagia petista chegou a um nível tal, que põe em
risco a própria eleição presidencial. A campanha de Dilma, que, em última
instância, é a campanha do próprio PT, está parada e a mercê das disputas
internas e dos projetos pessoais em busca de mandatos e espaços.
Em
Pernambuco, por exemplo, onde o PT justificou para sua militância que não
lançaria candidatura própria para priorizar a reeleição da presidenta Dilma,
com um palanque forte, sequer se instalou um comitê de campanha para trabalhar
pela reeleição, cujos dirigentes petistas afirmaram ser prioridade e nem se vê
o candidato Armando Monteiro justificando o apoio que recebeu do PT, a ponto de
ser acusado pelo prefeito Geraldo Julio, coordenador de campanha de seu
adversário, o ex-secretário Paulo Câmara, de esconder Dilma de sua campanha.
Diante
de dois candidatos fracos como Aécio e Eduardo, o PT corre o risco de ser
derrotado pelo próprio PT e não pela oposição cambaleante. Vale prestar muita
atenção ao que o próprio Lula afirmou, ontem, ao analisar o resultado do
Datafolha. Disse Lula que depois de concorrer a tantas eleições, perdendo e
ganhando, aprendeu sobre pesquisas que essas não devem ser desprezadas quando
nos desfavorecem, antes, devem nos guiar para o caminho que deveremos seguir
dali em diante. Lula, inegavelmente, sabe das coisas, embora quase nunca fale exatamente
o que pensa.
Entendo que a Dilma deve centrar sua campanha nas ações de JUSTIÇA SOCIAL. Atenção especial na saúde, na educação, na mobilidade do setor público. Promover o pleno emprego e incentivar a produção nacional. Ter controle sob a inflação.
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