OBRAS SUPERFATURADAS E TRABALHADORES EXPLORADOS: ESSA A FORMULA DE DESENVOLVIMENTO QUE A FRENTE POPULAR TROUXE PARA SUAPE
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Obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco |
Inicialmente
orçada para custar R$ 8,5 bilhões, o balanço realizado pelo próprio governo,
nas obras do PAC2, constata que esse valor foi praticamente triplicado, desde
que iniciada a obra, em 2007. Estima o próprio governo que o custo final da
Rnest poderá chegar a R$ 26,5 bilhões (R$ 4,5 bilhões de 2007 a 2010, R$ 21,1
bilhões de 2011 a 2014 e R$ 941 milhões após o ano de 2014).(1)
Das causas
para o aumento desproporcional do custo da Rnest, já se sabe, com certeza
matemática, que pelo menos R$ 1.544.443.935,85 são fruto de superfaturamento
nos contratos celebrados pela Petrobrás com as empreiteiras responsáveis pela
construção da Refinaria.
Isso mesmo!
O TCU, por meio de Auditoria realizada já agora, em 2012, confirmou
levantamentos anteriores que davam conta de sobrepreço nos contratos celebrados
entre a Petrobrás e as empresas Norberto Odebrecht, Camargo Correia,
Queiroz Galvão, OAS, IESA, CNEC e
CONDUTO, referentes às obras da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca,
Pernambuco. Como os pagamentos já foram realizados, o que inicialmente se
caracterizou como sobrepreço passou a ser definido como verdadeiro
superfaturamento, com grave potencial de causar danos ao Erário, conforme
conclusão do próprio TCU (2):
Contrato 0800.0033808.07.2, 9/8/2007,
Projeto e execução de terraplenagem e serviços complementares de drenagens,
arruamento e pavimentação, Consórcio Refinaria Abreu e Lima (Norberto Odebrecht/Galvão/ Camargo
Correia/Queiroz Galvão). SUPERFATURAMENTO:
R$ 96.346.106,94;
Contrato 0800.0053456.09-2, 28/1/2010,
Serviços e fornecimentos necessários à implantação das Unidades de Destilação
Atmosférica - UDA (U-11 e U-12), da Refinaria Abreu e Lima S.A - RNEST,
compreendendo os serviços de construção civil, montagem eletromecânica,
fornecimento de materiais, fornecimento parcial de equipamentos, preservação,
condicionamento, testes, pré-operação, partida, assistência técnica à operação,
assistência técnica e treinamentos na Refinaria Abreu e Lima S.A - RNEST,
Consórcio Rnest-Conest (Empresas
Odebrecht e O.A.S.). SUPERFATURAMENTO:
R$ 133.082.906,66;
Contrato 0800.0053457.09.2, 5/2/2010,
Unidades de Coqueamento Retardado (U-21 e U-22) suas subestações e Casas de
Controle, suas Seções de Tratamento Cáustico Regenerativo (U-26 e U-27),
incluindo fornecimento de materiais, fornecimento parcial de equipamentos, construção
civil, montagem eletromecânica, preservação, condicionamento, testes,
pré-operação, partida, assistência à operação, assistência técnica e
treinamentos na Refinaria do Nordeste Abreu e Lima - RNEST, (Consórcio Camargo Corrêa – Cnec). SUPERFATURAMENTO: R$ 522.638.923,70;
Contrato 0800.0055148.09-2, 9/2/2010,
Unidades de Hidrotratamento de Diesel (U-31 e U-32), de Hidrotratamento de
Nafta (U-33 e U-34) e de Geração de Hidrogênio UGH (U-35 e U-36), incluindo
fornecimento de materiais, fornecimento parcial de equipamentos, construção
civil, montagem eletromecânica, preservação, condicionamento, testes,
pré-operação, partida, assistência à operação, assistência técnica e
treinamentos na Refinaria do Nordeste Abreu e Lima S.A - RNEST, Consórcio
Rnest-Conest (Empresas Odebrecht e
O.A.S.). SUPERFATURAMENTO: R$
351.443.396,04;
Contrato 0800.0057000.10-2, 16/4/2010,
Serviços e fornecimentos necessários à implantação das tubovias de
interligações da RNEST compreendendo os serviços de análise de consistência do projeto
básico, projeto de detalhamento, fornecimento de materiais, fornecimento
parcial de equipamentos, construção civil, montagem eletromecânica,
preservação, casa de bombas, condicionamento, testes, pré-operação, partida,
assistência à operação, assistência técnica e treinamentos na Refinaria do
Nordeste Abreu e Lima - RNEST, Consórcio
C II - Ipojuca Interligações (Constituído
Pela Empresas Queiroz Galvão e Iesa).
SUPERFATURAMENTO: R$ 316.951.565,62;
Contrato 0800.0055153.09.2, 4/1/2010,
(DUTOS) Serviços e fornecimentos necessários à implantação dos dutos de
recebimento e expedição de produtos da RNEST, compreendendo análise de
consistência do projeto básico, projeto de detalhamento, fornecimento de
materiais, fornecimento de equipamentos, construção civil, instalações
elétricas, montagem eletromecânica, preservação, condicionamento, testes, apoio
à pré-operação e operação assistida, na Refinaria do Nordeste - Abreu e Lima -
RNEST, no município de Ipojuca/PE., Conduto
- Companhia Nacional de Dutos. SUPERFATURAMENTO:
R$ 123.981.036,29.
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Trabalhadores da Rnest |
As notícias
sobre as condições de vida e de trabalho dos operários de SUAPE, notadamente
daqueles contratados para as obras da Rnest e do estaleiro Atlântico Sul são
estarrecedoras.
Durante o 1º
de maio do ano passado, uma Comissão formada por integrantes de movimentos
sociais e operários de vários estados fez uma blitz nos canteiros de obras de
SUAPE e colheu depoimentos chocantes dos trabalhadores: “Somos chamados de cachorros por
encarregados, gerentes e patrões.
Quando reclamamos do péssimo tratamento, das
horas extras que quase nunca pagam e das péssimas condições de trabalho, eles
gritam com a gente coisas como ‘vocês eram cortadores de cana, passavam fome e
hoje tem m profissão e salário, tão reclamando de quê? Até fardinha vocês
tem.’"
Osmir Venuto, dirigente do Sindicato dos
Trabalhadores da Construção de Belo Horizonte-MG, em entrevista ao jornal “A
Nova Democracia”, ao comentar o atentado cometido por seguranças do SINTEPAV, sindicato que deveria representar os trabalhadores da construçåo civil, contra o operário Tiago Ramos de Souza,
contratado pela Odebrecht para as obras da Refinaria Abreu e Lima, no ano
passado, ressaltou que “Crimes como
esse são mais corriqueiros do que se imagina. Os patrões, contando com a
cumplicidade de sindicatos pelegos, assassinam sistematicamente trabalhadores
em todo o país nos seus canteiros. Impõem um ritmo frenético de trabalho e
provocam uma verdadeira matança e mutilações de operários nos canteiros de
obras”.
Já o professor da UFPE e militante do Movimento Ecossocialista de
Pernambuco, Heitor Scalambrini Costa, em entrevista ao site da Unisinos,
ao tratar sobre o problema das condições de trabalho em SUAPE destacou que o
deslocamento social de milhares de pessoas de seu ambiente social,
distanciando-as de seus familiares associado a inexistência de
diversão que não seja o bar e a prostituição são fatores de desagregação social.
Além disso, Scalambrini lembra o baixo nível dos salários (pedreiros ganham em
torno de mil reais, e os ajudantes R$ 780,00) em contrapartida à extensa
jornada de trabalho: “O que acontece em Suape é semelhante a
acontecimentos que estão ocorrendo nas grandes obras do país. As empreiteiras
contratadas tratam os trabalhadores como objetos de lucros astronômicos. O PIB
em Pernambuco cresce, mas a massa de salários não.”
Heitor Scalambrini deixa claro o que está por trás dos protestos e paralisações que já se mostram corriqueiros em SUAPE vai muito além das meras disputas sindicais, como querem fazer crer governo, alguns setores da imprensa e o sindicalismo pelego: “Os baixos salários aliados às condições precárias de trabalho têm levado a protestos e paralisações frequentes. A falta de organização legítima dos trabalhadores nos canteiros de obras possibilita o surgimento de sindicatos estreitamente ligados a empresários. Acordos salariais sem a concordância de uma das partes (dos trabalhadores) têm levado a recorrentes manifestações, greves e revoltas nos canteiros de obra de Suape. Muitas delas são violentas, com queima de carros e ônibus e enfrentamento com a polícia de choque.”
Para o
estudioso, o crescimento econômico do Estado, simbolizado por SUAPE só atende
aos interesses do poder econômico, pois a classe trabalhadora continua à margem
dele, apenas como alvo da mais absoluta exploração: “Esse crescimento não tem
se convertido em melhorias para a classe trabalhadora no estado e que se trata
um crescimento só para alguns. Uma parcela importante dos trabalhadores já
percebeu isso. Daí o aparecimento de greves, principalmente dos operários da
construção civil, que pôs às claras a situação de brutal exploração a que estão
submetidos nos canteiros de obras de Suape.(3)
Uma audiência pública chegou a ser realizada
pela Assembleia Legislativa de Pernambuco, na qual várias denúncias foram
registradas, sendo possível perceber que SUAPE se transformou num calvário,
onde as queixas dos trabalhadores vão desde a falta de chuveiro e vestiário a
desvios de função, passando por assédio moral e sexual, além de perseguição
religiosa e salário menor que o prometido na cooptação que antecede à
contratação do trabalhador.
Durante
a audiência público foi denunciada a situação de discriminação por que passam
os trabalhadores pernambucanos, o que já tinha sido observado pela Comissão que
visitara o canteiro de obras no ano passado. Além do assédio moral sofrido
pelos trabalhadores com origem campesina, foram colhidas denúncias de que os
trabalhadores vindos de outros Estados, mesmo quando apresentam a mesma
qualificação ou até qualificação menor, recebem três vezes mais que os
trabalhadores pernambucanos, desmistificando o discurso governista que
justifica toda a politica de benefícios fiscais e favorecimentos ao
empresariado em razão da geração de emprego e renda para a população local.
Alimentação
ruim, falta de segurança, com registros de acidentes e até mortes, também
integraram a lista de gravíssimas irregularidades denunciadas na audiência
pública realizada, ainda em abril deste ano, na ALEPE.
Numa
analise, mesmo que aligeirada da situação de SUAPE, na atualidade, é possível
perceber que os governos de Frente Popular, tanto de Lula, quanto de Dilma, em
combinação com o de Eduardo Campos, com o conveniente colaboracionismo de um
sindicalismo burocrático, que vive de empanturrar-se do vetusto imposto
sindical herdado do trabalhismo varguista, que libera as direções pelegas para
que vivam a serviço da patronal,
enquanto enriquecem do dia de trabalho que descontam, todos os anos, å
revelia da vontade da categoria que traem a cada dissidio que se passa,
transformaram o Complexo Petroquimico de
Suape numa região de subempregos e de constante convulsão social, onde os
interesses a serem atendidos såo o do grande capital que se beneficia nåo
apenas da måo de obra barata, mas das obras superfaturadas, numa dupla
exploração da classe trabalhadora que, em ultima analise, alem de ser expropriada na sua força de trabalho, ainda banca o alto
custo da corrupção que toma conta do Estado brasileiro.
(1)http://www.brasil.gov.br/pac/relatorios/pac-2/2o-balanco-2011/2o-balanco-refino-e-etroquimica/view(2) TC 006.583/2012-1. Ata n° 26/2012 – Plenário. Data da Sessão: 11/7/2012 – Ordinária. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-1780-26/12-P.(3) http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/512442-complexo-industrial-de-suape-os-limites-do-desenvolvimento-entrevista-especial-com-heitor-costa
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