ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DA PRÉ-CANDIDATA Á PREFEITURA DO RECIFE, NOELIA BRITO (PSOL), AO PORTAL BRASIL 247
Sede do PSOL, em São Paulo |
247 - Como o Psol está captalizando
recursos para a sua campanha?
Noelia Brito - Devido às
limitações impostas pela legislação eleitoral, o PSOL ainda não está
capitalizando recursos para nossa campanha majoritária à Prefeitura do Recife.
Isso só deverá ter início com a instituição do Comitê Financeiro de campanha, mas
desde já posso assegurar que não serão aceitas, em nenhuma hipótese, doações ou
contribuições financeiras provindas, direta ou indiretamente, de empresas
multinacionais, de empreiteiras e de bancos ou instituições financeiras
nacionais ou estrangeiros, o que é, inclusive, expressamente vedados por nosso
Estatuto. O problema da corrupção inicia-se justamente no momento da
arrecadação eleitoral, por isso rejeitamos qualquer doação desses grupos
econômicos, pois são esses grupos que tradicionalmente financiam campanhas para
ter retorno econômico posterior.
247 - Qual o melhor meio que vocês
estão encontrando para fazer a campanha mais à frente? Redes
sociais?Panfletagem?
Noelia Brito - As redes
sociais serão, sem sombra de dúvidas, o grande diferencial da campanha
eleitoral deste ano. Inclusive, nós do PSOL aqui no Recife inovamos com o
lançamento de nossa pré-candidatura à Prefeitura da Capital, sendo transmitida
ao vivo pela Internet para todo o Planeta. Mas uma campanha para a prefeitura
de uma cidade cheia de carências como a cidade do Recife tem que ser feita de
modo mais presencial possível, sentindo de perto as dificuldades e as agruras
pelas quais passa o nosso povo. Não é só o povo que tem que conhecer o
candidato. Muito mais importante é que o candidato conheça o povo e isso só é
possível estando junto, dialogando, trocando ideias. Nós planejamos a
realização de conversas, pequenas plenárias por todos os bairros do Recife,
onde queremos colher o sentimento e a força que vem das massas sobre a
realidade da cidade.
247 - Por lei, não participa do
debate o candidato, cujo partido não tem representação no Congresso. Qual a sua
opinião a respeito e o que você defende para fortalecer os partidos
"menores"?
Noelia Brito - Olha,
muito embora nosso Partido, o PSOL, tenha direito, por essa fórmula, de
participação nos debates, uma vez que temos assento no Congresso Nacional com 4
parlamentares de elevada atuação, dos quais 3 deputados federais e um senador,
entendemos que para que o processo eleitoral se mostrasse verdadeiramente
democrático todas as legendas deveriam ter direito à exposição de seus
conteúdos programáticos e ideológicos e com igualdade de tempo no Programa ou
Guia Eleitoral, tanto na TV como no
Rádio.
247 - O Psol já tem alianças com
outras legendas para estas eleições?
Noelia Brito - Estamos
dialogando com bastante entusiasmo rumo à formação de uma Frente de Esquerda
com o PSTU, o PCB e o Partido Pirata do Brasil que pretendemos seja para muito
além de simples composição para o período eleitoral. Queremos e esse é nosso
principal objetivo nessas eleições, que tanto nosso Partido, o PSOL, quanto a oposição
de esquerda, saiam verdadeiramente fortalecidos desse processo.
247 - Quais são as suas principais
propostas para o Recife, caso seja eleita, e como você enxerga a atual
administração na cidade?
Noelia Brito - A construção de um programa é um processo coletivo. O nosso partido, em um Seminário Nacional, discutirá os eixos centrais da política que norteará nossa intervenção em todos os municípios, pois há problemas comuns, sobretudo nas capitais e principais cidades do país. Nossa presença como pré-candidata do PSOL à Prefeitura do Recife já está confirmada.
Iremos também realizar debates e plenárias nos bairros do Recife buscando colher propostas que formatem o nosso programa. De antemão posso antecipar que a nossa ideia é inverter as prioridades hoje vigentes da prefeitura e discutir com a sociedade civil, os movimentos sociais e as forças políticas de esquerda que vierem a se somar a nossa pré-candidatura a cidade que queremos construir.
A prefeitura tem investido muitos recursos para viabilizar o trânsito do município, no entanto, além de não resolver a situação do caos no trânsito, desvia recursos fundamentais que deveriam estar sendo investidos no transporte coletivo de qualidade e não para o transporte individual, que é o que está parando as ruas do Recife.
Muitos recursos que deveriam ser destinados à Educação e à Saúde, hoje são drenados para o aparelhamento da máquina pública, através de terceirizações e do grande número de cargos comissionados, o que geral uma administração pública ineficiente e corrompida. Um exemplo clássico é a terceirização da Merenda escolar, hoje entregue às duas empresas que comandam a Máfia da Merenda em todo o País, Geraldo J. Cohan e SP Alimentação. Esses contratos precisam ser revistos com urgência.
Recursos necessários para que a gente melhore a vida do povo de Recife estão sendo desviados em função de obras superfaturadas, como a obra de saneamento da bacia do Beberibe, que já é, inclusive, alvo de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Estadual e que foi entregue à Delta Construções, a mesma que tem relação com Carlinhos Cachoeira e que detém mais de R$ 130 milhões em contratos com a Prefeitura do Recife.
A prioridade de qualquer governo socialista não pode ser o atendimento de interesses de empreiteiras e banqueiros, como o que se vê hoje no Recife, por isso, nossas prioridades serão a Educação, a Saúde, a Moradia, a mobilidade, mas a mobilidade focada do transporte coletivo, o saneamento básico e o meio ambiente, em seu espectro mais abrangente. É inconcebível que as construtoras tenham tomado conta das áreas non aedificanti do Rio Cabibaribe e dos Manguezais e as autoridades municipais se façam de cegas, surdas e mudas aos clamores da populações e dos movimentos ambientalistas.
247 - Qual o paralelo que você faz
em relação à oposição (neste caso, a MDU) e o PT no que diz respeito à forma de
atuação na política recifense?
Noelia Brito - Lamentavelmente,
não há diferenças do ponto de vista ideológico e, consequentemente, do ponto de
vista prático. Tanto a direita escancarada, representada pela tal Mesa da
Unidade, quanto a direita disfarçada de esquerda, representada pelos governos
do PT e do PSB no Recife e em Pernambuco, defendem o modelo neoliberal que só
serve à burguesia e que sangra os recursos públicos em benefício de uma minoria.
O Recife é, por vocação, uma cidade de esquerda, não há espaço para guinadas à
direita, por isso temos convicção de que nossa pré-candidatura tem um enorme
potencial de crescimento diante desse visível posicionamento de centro-direita
do PT e dos partidos que o apoiarão nas próximas eleições municipais.
247 - Você esteve à frente da Procuradoria do Recife também na gestão de João Paulo. Qual o paralelo que você estabelece quanto à administração de João Paulo e João da Costa?
Noelia Brito - Só um
esclarecimento. Sou procuradora do Município do Recife, por concurso público,
há 16 anos. Na verdade, nunca estive à frente da Procuradoria Geral do
Município em nenhuma das duas gestões. Exerci o cargo de Procuradora-Chefe da
Fazenda Municipal do Recife, que é um cargo privativo de procuradores de
carreira, apenas no período de março de 2010 a fevereiro de 2011, portanto,
durante a gestão João da Costa.
Quanto ao
comparativo entre as duas gestões, além da grande diferença de personalidade entre
os dois Joões, do ponto de vista da gestão, não há qualquer diferença. João da
Costa sempre foi o executor das políticas públicas de João Paulo. O mérito e o
demérito de um é também do outro. Quem criou João da Costa desde o berço, no
gabinete de vereador, foi João Paulo. Quem brigou com todo o PT para impor o seu
nome foi João Paulo. São siameses inseparáveis. A própria corrente Construindo
um Novo Brasil, de Humberto Costa e Maurício Rands, que hoje demoniza João da
Costa, só está aliada a João Paulo contra Costa por oportunismo eleitoreiro, pois
estavam até ontem dominando as secretarias de maiores mobilizações de recursos
e, curiosamente as secretarias onde se concentram também os maiores escândalos
nas duas gestões, falo da Secretaria de Cultura e da Secretaria de Saúde.
Portanto, Tanto os Joões, quanto Rands representam o continuísmo de um modelo
neoliberal de gestão que só atendeu aos interesses de empreiteiros, empresas de
ônibus, privatas da saúde e do sistema financeiro que os banca.*Entrevista concedida ao repórter Leonardo Lucena, do Portal Brasil 247
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